A modernização de escritórios de advocacia com foco em gestão, inovação e tecnologia para o alcance de alta performance de serviços jurídicos foi um dos temas inovadores apresentados, nesta terça-feira (28/11), no painel “Legal Operations: inovação e tecnologia – A alta performance dos serviços jurídicos”, durante 24ª Conferência Nacional da Advocacia, em Belo Horizonte (MG).
A mediadora CEO da ForeLegal, Celina Salomão, abriu os trabalhos destacando o objetivo da mesa: criar um espaço democrático do ponto de vista da participação. “Vamos trazer diversos painéis, com focos variados, para contextualizá-los e assim, ampliar a compreensão dessa perspectiva, que é um método de se fazer gestão”, disse ela. “Quando a gente tem uma gestão bem estruturada, estamos focando na melhor performance do escritório, para alavancar a melhoria desses serviços jurídicos”, completou.
Em relação ao tema seguinte: “Inteligência Artificial: tecnologias gerando valor na advocacia”, o sócio do escritório Urbano Vitalino Advogados, Daniel Farias, deixou claro para os presentes que eles não deveriam ter medo da tecnologia. “É preciso deixar de lado a tecnofobia. A tecnologia veio para abrir novas oportunidades e melhorar nossa vida como advogado. É um ganho de eficiência, como, por exemplo, em alimentação de dados do sistema”, afirmou.
De acordo com o jurista, a tão falada substituição do homem pela tecnologia não é uma regra pétrea, e tem suas variáveis. “Se você acha que está ameaçado, é porque está se comportando como robô. Se fizer algo robotizado, sempre haverá um processo que vai substituí-lo.”
Farias reforçou os ganhos em mitigação de riscos e o foco em produtividade, proporcionados pela utilização das ferramentas tecnológicas, e lembrou os três itens da escola clássica de gestão – Pessoas, Processos e Tecnologia. “E a partir do surgimento das tecnologias, qual a perspectiva? É a capacidade de integração dessas áreas, reunindo dados e informações numa só ferramenta”, completou.
Inovação e tecnologia oferecem um cenário muito diversificado, com várias ferramentas que precisam ser testadas para que cada escritório possa adequá-las de acordo com a própria necessidade. A mediadora Celina Salomão disse que não se pode esperar o “perfeito” acontecer. “É preciso testar. Nós, advogados, não fomos preparados para testar, mas é preciso fazer a validação do teste para ver o que é que realmente funciona na prática.”
No tema seguinte: “Alavancagem de Performance de Serviços Jurídicos e de Gestão Jurídica”, o diretor jurídico e de Compliance da OAB-SP Gustavo Biagioli, disse que não adianta colocar o carro na frente dos bois, ou seja, a tecnologia à frente das pessoas. “Primeiro é preciso arrumar a casa: pessoas, equipes. É muito importante começar essa tarefa olhando para nossas pessoas. E o link entre as pessoas e os sistemas são os processos. Não importa o tamanho do seu escritório e a geografia: o que importa é como você vai estruturar os seus processos internos.”
A discussão seguinte: “CLOB – Comunidade Legal Operations Brasil: Missão da Comunidade, Formação e Desafio dos Profissionais”, o empreendedor em inovação, Christiano Xavier, falou sobre a importância de se desmistificar as tecnologias e democratizar o acesso a elas. “Não podemos desconsiderar a realidade de 1,4 milhão de advogados no país que não podem sequer investir 400 reais por ano”, lembrou.
A grande pressão por redução de custos, necessidade de eficiência e liberalização dos serviços jurídicos é uma realidade global, e o meio jurídico não foge desse contexto. Os desafios institucionais são feitos de ameaças e oportunidades. “Precisamos ver de que forma vamos trabalhar esses desafios, e o primeiro deles é cultural. É muito importante darmos voz às pessoas, porque as organizações são muito hierarquizadas, com baixa autonomia. Existem muitas mudanças de processos relacionadas às pessoas. Se não há cultura de gestão, a gente não consegue caminhar.”
No tema seguinte: “Controladoria Jurídica e Legal Operations”, o sócio do Sebadelhe Aranha Advogados, Daniel Sebadelhe, disse que a necessidade de dados estruturados partiu do próprio cliente. “A tecnologia ajuda, mas não adianta ter dados estruturados e não saber interpretá-los. Encontrar pessoas capacitadas no mercado não é fácil, com essa multidisciplinaridade.”
Um canal de comunicação fluido entre o controller e os sócios, de acordo com ele, tem importância fundamental. “O primeiro grande desafio é ter um controller bem preparado e que tenha a confiança dos sócios. É um desafio formar pessoas para trabalhar.” Segundo ele, a controladoria tem um papel muito estratégico na governança, nos resultados e, por consequência, na área financeira. “É uma ferramenta efetiva de transformação em um escritório.”
A sócia do Rossi e Sejas Advogados, Samantha Rossi, disse que, quando se fala em controle de dados da controladoria, é preciso mapear qual o objetivo específico, e quais ferramentas podem ser utilizadas para que se possa atingir esse objetivo.
Para ela, o trabalho prévio, de conhecimento da atuação do escritório e dos clientes, é cada vez mais necessário. “Conheçam todos os processos e sistemas do seu escritório, mesmo que não sejam da sua área. Senão, não há sistema contratado que vá atender a tudo”.
A mediadora Celina Salomão foi na mesma linha. “A ideia de uma solução, um software que vai atender a 100% das dores não existe. Esse é o ponto mais sensível que podemos compartilhar. Não existe o software ideal. O que temos são vários produtos e plataformas desenvolvidas para diversos cenários.”
No debate sobre “Estatuto da Advocacia, Código de Ética e Uso da Tecnologia”, os advogados e consultores Stanley Frasão e Carlos José da Silva, o Cajé, fizeram uma ótima dobradinha na mesa, com vários apartes sobre o tema. “Esse é um tema apaixonante para nós. A meu ver, o maior problema das pessoas que criticam é o desconhecimento”, destacou o Cajé. Ele citou o Chat GPT como exemplo de uma exposição da imagem do cliente. “Muitos deles já colocam o impedimento dessa consulta no contrato”.
Stanley Frasão disse que o bom senso continua sendo um grande balizador, mas que os artigos do código de ética estão aí para serem consultados. “Eu sou legalista, vou sempre defender a legislação. O artigo 39 do nosso Código de Ética, por exemplo, é bem claro ao falar sobre moderação. Os artigos 45 e 46 dispõem sobre o que é permitido. Se o caso não se aplicar a esses artigos, é só apelar para o 39”.
Cajé foi enfático ao dizer que a advocacia é uma sociedade uniprofissional, e que os advogados só podem oferecer serviços jurídicos. “Isso existe para se preservar a advocacia. Fora isso, podem se firmar parcerias com outras áreas, se for o caso”.